Um dia após a morte de 6 pessoas durante protestos no Sudão, forças de segurança anunciam a detenção de diretor da Al-Jazeera

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Episódio aumenta a pressão sobre a imprensa depois de um dos conflitos mais violentos desde o golpe militar de 25 de outubro. Centenas de ativistas, opositores e manifestantes contrários ao golpe também foram detidos. Manifestantes sudaneses carregam homem ferido durante protesto em 13 de novembro de 2021 contra o golpe militar de 25 de outubro
AFP
As forças de segurança do Sudão anunciaram neste domingo (14) a detenção do diretor do escritório do canal Al-Jazeera em Cartum, o que aumenta a pressão sobre a imprensa um dia após a morte de seis manifestantes num dos conflitos mais violentos desde o golpe militar de 25 de outubro.
“As forças de segurança realizaram uma operação na casa de Al-Musalami al-Kabbachi, diretor da Al-Jazeera no Sudão, e ele foi detido”, afirmou no Twitter o canal de TV, com sede no Catar.
Os motivos da detenção não foram imediatamente divulgados. Centenas de ativistas, opositores e manifestantes contrários ao golpe também foram detidos.
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O Sudão entrou em um período turbulento no fim do mês passado, quando o general Abdel Fattah al-Burhane, que já comandava o Conselho de Soberania, o principal organismo de poder do Sudão após 30 anos de ditadura, determinou a detenção da maioria dos civis com os quais compartilhava o poder.
No mesmo dia, ele também dissolveu todas as instituições do país e declarou estado de emergência.
Desde então, a Al-Jazeera tem feito a cobertura das manifestações contra o golpe de Estado, várias delas ao vivo. O canal também entrevistou há menos de uma semana o general Al-Burhane, que só falou com a imprensa duas vezes desde o golpe.
No sábado, militantes pró-democracia convocaram dezenas de milhares de pessoas para protestos contra o golpe em todo o país, apesar da grande mobilização militar e de outros obstáculos, incluindo o bloqueio do serviço de internet.
As forças de segurança tentaram impedir as manifestações com uma repressão violeta. O balanço atualizado de um sindicato de médicos contabiliza seis manifestantes mortos em Cartum neste sábado (13), incluindo um adolescente de 15 anos.
Desde 25 de outubro, data do golpe, 21 manifestantes morreram e centenas ficaram feridos, de acordo com o sindicato. A polícia negou ter atirado contra os manifestantes e anunciou um balanço de 39 feridos em estado grave entre os agentes.
No Twitter, a embaixada dos Estados Unidos em Cartum condenou o “uso excessivo da força”.
Em abril de 2019, mais de 250 manifestantes morreram na revolta popular que levou o exército a derrubar o ditador Omar al-Bashir.
Apesar da violenta repressão de sábado, as Forças da Liberdade e Mudança (FFC, na sigla em inglês), o bloco civil surgido da revolta que derrubou Bashir, convocaram novas manifestações para quarta-feira (17).
“Nosso caminho para um Estado civil e democrático não termina”, afirmou em um comunicado o bloco, que tem alguns de seus líderes detidos desde o golpe.
Promessas de eleições
O general Abdel Fattah al Burhan nomeou na quinta-feira (11) um novo Conselho Soberano, do qual foram excluídos os representantes do bloco que pede a transferência de poder aos civis.
Esse conselho foi criado após a queda em 2019 do ditador Omar al-Bashir para supervisionar a transição à democracia. Mas em 25 de outubro, Al Burhan dissolveu todas as instituições.
Com seu número dois, o general Mohamed Hamdan Daglo, comandante das influentes Forças de Apoio Rápido (RSF), paramilitares acusados de vários abusos, Burhan prometeu organizar “eleições livres e transparentes” no verão de 2023.
As promessas não apaziguaram a oposição.
“Agora que aconteceu o golpe, os militares querem consolidar seu controle do poder”, afirmou Jonas Horner, pesquisador do International Crisis Group.
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Fonte: G1 Mundo